domingo, 7 de fevereiro de 2010

O Carnaval


Período em que a massa se liberta de suas correntes, e seu poder desfila solto pelas ruas. O tipo de mobilização que a população produz nessa festa é uma mostra do poder que o povo possui e que sempre é mal utilizado.

Um exemplo disso é o carnaval em Viana, cidadezinha do Espírito Santo. Lá existem dois blocos carnavalescos: um com música baiana, banda contratada e um mega trio elétrico; e outro que sai do bairro mais pobre da cidade, com um trio elétrico mais modesto e uma bateria formada pelos meninos da comunidade.

O pessoal de direita já deve estar torcendo o nariz e falando: “lá vem essa porcaria de luta de classes e marxismo outra vez”, mas até vocês, se acompanharem o carnaval nessa cidade, vão concordar que o tipo de manifestação popular obtida pelo segundo bloco é fora de série e que esse simples exemplo é uma prova de que, mesmo de forma inconsciente, as classes mais desfavorecidas sabem se reconhecer e se mobilizar em um objetivo comum.

O primeiro bloco desfilou durante a tarde e levou uma esparsa multidão se sacudindo atrás do seu caminhão de cerveja (eles alugaram um para levar as dos membros) e terminou em frente à prefeitura com algumas brigas e um pequeno show.

Não há como pôr em palavras a sensação do início do desfile do segundo bloco, posso descrever o cenário: um bairro pobre em que a rua parece uma cena de guerra, por causa dos estragos das últimas chuvas (o bairro em questão foi inundado duas vezes só em 2009), as pessoas perderam tudo o que tinham, essas mesmas pessoas estão agora formando esse fenômeno que narro para vocês.

Aos poucos começam a chegar jovens, crianças, adultos, senhoras vestidas de Baiana, e os instrumentos vão sumindo da pilha e, quando menos se espera, um som se abate sobre o lugar, avassalador, dinâmico, forte. O ribombar de um trovão repetido, de instante a instante, seduzindo e extasiando as pessoas.


Esse efeito é conseguido não com dinheiro, mas com trabalho voluntário e dedicação desinteressada. Essa é a simples receita libertadora do poder desse povo, fazendo com que ele mostre sua superioridade àqueles que se consideram melhores, e humilhe a pretensa aristocracia de forma tão explícita.

Essa é a velha luta, todos estão nela, querendo ou não, conscientes ou não. Todos estão lutando e o carnaval é a única batalha em que a classe trabalhadora triunfa, mas não precisava ser assim, esse poder pode ser liberto a cada eleição, a cada aumento da passagem do ônibus, a cada inundação tratada com descaso pelo poder público. É só questão de fazer com que cada um conheça o próprio poder e não abdique dele em favor de um político de aluguel, mas que o tome em suas mãos e esmague os parasitas em seu caminho com a mesma potência dos golpes da bateria do bloco Renascer.